Pistas molhadas


Quem nunca viu uma pista molhada e sentiu como se também estivesse úmido por dentro? Como se a umidade invadisse sem pedir licença e trouxesse a sensação de... não consigo explicar com palavras. Bom, isso não acontece muito, até me considero melhor escrevendo do que falando, só que a vida tem dessas e algumas coisas ficam melhor imaginadas do que escritas, acredite. 

Hoje eu quero falar da sensação de chuva, sim, acontece quando chove do lado de fora, mas a gente fica diferente por dentro. Considerando a hipótese de um universo onde todos sentem a mesma coisa que eu, claro. Acho que todo mundo gosta quando chove, a não ser que essa pessoa more em um lugar frio no qual APENAS chove. Eu gosto de chuva e prefiro dias cinzentos a ensolarados, não sou depressiva, mas onde moro temos mais dias ensolarados do que pessoas. 

Nesses dias mais frios, desejamos ainda mais intensamente aquilo que antes de dormir costumamos pensar sobre. Parece que o frio tem um gatilho que funciona como a TPM e nos deixa mais sensíveis. Todavia, dias de chuva merecem respeito, eles costumam ser sinceros e capazes de despertar coisas escondidas e despercebidas que moram em nós. São os melhores dias para sonhar, para dormir e conversar. Lindas sensações, calmaria por opção de não se molhar, mas observar a queda d'gua.

Janelas costumam ser irresistíveis normalmente, em dias de chuva elas praticamente imploram para que alguém observe o mundo através delas. As gotinhas que se formam, que só você vê e então se imagina num filme, onde tem uma câmera filmando do lado de fora pelo melhor melhor ângulo possível. Mas claro, quando decidimos fotografar parece que a câmera decide nos fazer egoístas e guarda só pra gente aquelas gotinhas escorrendo ou refletindo luzes vermelhas e azuis da rua. Câmeras se fazem de burras na minha opinião e isso geralmente acontece quando elas querem que a gente não divida alguma beleza com o resto do mundo. 

Voltando às pistas... o cheiro da terra molhada e o vento que fica gelado podem ser melhores que a viagem que você fará e que o lugar que está prestes a conhecer... sobre a comida não ouso falar, sou taurina. Mas, quem pode comprar essas coisas que a natureza nos dá? Eu ouvi estrada molhada, viajar de carro, chuva na janela e uma câmera? Esse é um bom começo para uma jornada feliz. 

De chuva em chuva e vento em vento podemos sair mais penteados do que pensamos. De frio em frio, menos doídos e mais fortes. De silêncio em silêncio, mais decididos. Mesmo que a chuva não te molhe, através do barulho do telhado e da vista da janela, mudanças já podem acontecer. Sobre o cheiro nem ouso falar, é ainda mais perigoso e difícil de escapar ileso, afinal terra molhada é terra molhada. Droga! Lembrei da Sandy. 

Não podemos ser indiferentes à chuva, ela não é só mais um fenômeno da natureza, mas um relógio que lava e nos diz o quanto precisamos deixar ir ou o quanto e quem devemos trazer para nossas vidas. Um banho de chuva pode significar liberdade, eu já senti isso enquanto corri me molhando uma vez, mas acho que um banho de chuva pode significar o que você quiser. 

Eu prefiro considerar esse tanto de umidade um grande relógio ou um espelho ainda maior. Chuvas que lavam, cheiros que acordam, sons que fazem relaxar e pensar nos sonhos mais brilhantes. Esqueçam os trovões e marquem o tempo da chuva.


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